Quem já não teve esta sensação? Estar perdido em relação ao futuro, aos planos à própria vida. Esta sensação muitas pessoas já tiveram, mas poucas tem coragem de expressar. Vivemos num contexto que valoriza demais o sucesso, a estabilidade, o construir e o progredir que ficamos pressionados a sempre pensar “pra fora”. Com “pensar para fora” quero dizer que ficamos muito preocupados com o que as outras pessoas pensam e anseiam de nós: ser um bom profissional, uma pessoa bem vista na cidade, com uma “aura” de sucesso e harmonia. Parece que precisamos estar sempre bem. Mas não estamos sempre bem.
Estar mal, estar perdido faz parte de nossa vida. São nos momentos que mais estamos perdidos que nos encontramos de verdade. Quando estamos perdidos saímos da superficialidade do dia a dia, saímos do “piloto automático” e nosso ser nos mostrar que há algo que precisa ser olhado com carinho. Mas isso não é muito fácil. Temos dificuldade de olhar “pra dentro”, pensar para dentro. E muitos sofrem por estarem cegos para si.
Certa vez uma paciente me procurou dizendo estar perdida, não saber para onde ir ou o que fazer de sua vida. Perguntei-lhe onde ela estava. Ela ficou surpresa, já que esperava que eu lhe desse um caminho. Expliquei-lhe que para saber para onde queremos ir e que direção tomar, precisamos saber onde estamos. Assim como quando vamos visitar um amigo numa cidade que não conhecemos, temos o endereço, mas mesmo assim nos perdemos nesta cidade. Ligamos para nosso amigo pedindo ajuda, qual é a primeira pergunta que nos fazem? “Onde você está?”. E somente a partir desta informaçao que nosso amigo pode nos orientar.
Da mesma maneira, quando estamos perdidos em nós mesmos, sobre o que desejamos, sobre o futuro, sobre decisões precisamos primeiro “olhar para dentro”, ver onde estamos. Ali mesmo pode-se encontrar uma resposta. Olhar para si não é fáci, é um grande desafio. Mas como todos os desafios, quando vencidos, tem resultados deliciosos.
Como uma colega de profissão disse outro dia: estar perdido é uma grande oportunidade de crescer. Concordo inteiramente. Estar perdido não é ruim, é uma oportunidade de se olhar, de avaliar a própria vida, as próprias decisões, os próprios desejos. Ali sempre há um caminho.
Por muitas vezes andando em cidades maiores, acab ei me perdendo. Sempre que isso acontecia, eu ficava feliz. Pois somente assim eu saía do piloto automático, conhecia outros lugares, novos caminhos. E invariavelmente acabava aproveitando as novas informações numa outra oportunidade.
Estar perdido é permitir-se aventurar-se no novo. A vida não precisa ser sempre a mesma, do mesmo jeito. Aliás, quando estamos perdidos é sinal que algo precisa ser diferente, que algo precisa ser mudado. E encontrar esse algo a ser mudado, requer parar e olhar para si mesmo e avaliar a própria vida.
Se você se sente perdido, não se obrigue a ficar logo “bem”. Permita-se perder-se, olhar-se. Se precisar, procure ajuda. Perder-se é encontrar-se. Encontre-se!
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