sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O que o Ladrão Não Levou...



Recentemente meu consultório foi “visitado” por pessoas que acharam interessante subir em uma sacada, estourar uma fechadura e fazer uma “limpa” nas coisas que haviam lá.
Confesso que foi uma desagradável surpresa encontrar meu consultório bagunçado e com lacunas, faltando objetos escolhidos com tanto carinho.
Situação incômoda. Sentir que algo seu, o seu espaço (e o espaço que ofereço para cada pessoa abrir seu baú de tesouros) foi invadido, sem ser convidado, maculando o sentimento de pertencimento. Enfim. Meu sentimento na hora era fechar, trancar imediatamente a porta. Voltar a colocar barreiras, trazer segurança... E os objetos se foram...
Chateada, pensei muito a respeito: afinal, são só coisas. E concluí: “Objetos só são objetos. São substituíveis. O que vivemos, o que aprendemos, ninguém tira de nós.”
Objetos caem, quebram, ficam velhos, se desfazem. Objetos podem ser roubados pelo tempo, por ladrões. Mas:
O que você aprende, ninguém tira de você.
O que você experimenta, fica guardado na sua memória.
Os momentos que você vive, ficam guardados no coração...
Aí fica a pergunta: onde estamos investindo nossa energia?
Em ganhar dinheiro para comprar coisas? Carro do ano pra mostrar pro vizinho? Na roupa da moda para a amiga morrer de inveja? No computador de última geração (que você não aproveita a metade dos recursos) porque seu parente tem um igual?
Para que servem as coisas? Elas servem para nos servir, para facilitar nossa vida.
Creio que os valores andam se invertendo. As pessoas vivem para adquirir coisas. Coisas que não são utilizadas para o fim a que se destinam, mas para mostrar uma aparência social, uma falsa ideia de “ser bem sucedido”.
As pessoas deixam a autenticidade para viver a ilusão de uma aparência. Se matam de trabalhar para adquirirem bens que na verdade não lhe servem. Arranjam encrencas de família por causa de dinheiro, de herança. Estragam relacionamentos familiares porque estão irritados por dívidas de aquisições supérfulas.
Está tudo virado!
Creio que seja mais interessante canalizar nossa vida para experiências. Para viver coisas boas, compartilhar momentos legais, para investir naquilo que realmente importa: as pessoas. Quando voltamos nossa atenção para os relacionamentos, para o crescimento pessoal, para vivermos coisas boas, estamos fazendo o melhor investimento da vida.
As coisas quebram, somem.
O que é vivido não se apaga.
Onde você está investindo sua energia? Para coisas? Ou para você?

Compartilhando...
Quando comentei com algumas pessoas o ocorrido, recebi este presente de uma pessoa que atendi há muito tempo: “O maior tesouro do teu escritório são os segredos, os pesos que ali se derramam, se desfazem, se atenuam... E o que dali se leva é só crescimento pessoal e isso ladrão nenhum tira....” R.L.). Ainda bem que ninguém pode tirar nossa capacidade de amar...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Acolhimento


Está aí algo que percebo que as pessoas estão precisando muito: de acolhimento.
Vejo hoje, que poucas pessoas sabem acolher. Mas o que é acolher?
Segundo o Dicionário Michaelis acolher significa: “Hospedar, receber (alguém). 2 Abrigar, dar acolhida a, recolher (alguém). 3 Atender, deferir, receber (pedido, requerimento, opinião). 4 Dar crédito a, dar ouvido a. 5 Abrigar-se, amparar-se, recolher-se, refugiar-se.”
Resumindo: ato de amparar, de receber, de ouvir.
Vejo hoje muitas pessoas que não tem com quem conversar, que passam por milhares de dificuldades sozinhas pelo simples fato de que as pessoas não sabem acolher. Acolher, não é simplesmente ouvir, e também não é ficar dando opiniões a respeito da vida da pessoa. É saber receber com carinho e sem julgamentos os sentimentos e dificuldades da pessoa que se abre a nós.
Por mais que tenhamos vontade de dizer alguma coisa para as pessoas com problemas, há momentos em que devemos guardar nossas opiniões, conselhos e pitacos e nos limitar a ouvir, acolher. Hoje as pessoas estão tão voltadas para questões práticas para resolver, para solução imediata das coisas, que esquecem que saber ouvir já é uma grande ajuda. E acredite, nem sempre conselhos resolvem, ou dão uma solução. Quando encontramos a possibilidade de compartilhar nossos problemas, mesmo sem esperar uma resposta, acabamos por nós mesmos encontrando as saídas.
As pessoas acham que no consultório, o psicólogo tem as respostas para seus problemas. Na verdade o psicólogo não tem resposta nenhuma. Apenas ajudamos as pessoas a ouvir a si mesmas, a encontrar o próprio caminho.
Acolher é oferecer ao outro a oportunidade de enxergar as próprias soluções, ou ajudar a dar um lugar de respeito à dor vivida. Você não precisa ser psicólogo para ajudar alguém. Basta desenvolver o acolhimento, saber ouvir, saber se colocar no lugar da pessoa. É saber ser humilde, e abrir mão do desejo de ser objetivamente “útil” ou de mostrar seus conhecimentos e opiniões. É dar o “ombro amigo”, dizer que está com a pessoa.
As pessoas precisam ser ouvidas. Precisamos aprender a ouvir.Abrir mão da "sabedoria" as vezes ajuda mais do que milhoes de conselhos.
Acolhimento é a palavra. Saiba acolher, saiba dar um abraço, um colo, um olhar, um sorriso. Saiba se colocar no lugar do outro.